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Willem van Waesberghe, da Heineken: 'Hoje todos querem abrir uma cervejaria'

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Willem van Waesberghe é mestre-cervejeiro da Heineken

Mestre-cervejeiro da Heineken, Willem van Waesberghe esteve no Brasil em junho para ministrar uma palestra no Instituto da Cerveja, em São Paulo. Em conversa com o SAIDEIRA por telefone [publicada com muito atraso, é bem verdade], ele confessou que a marca falhou por anos ao subestimar a comunicação com seus consumidores sobre a cerveja que produz. Atualmente, o cervejeiro contracena com Benicio del Toro em peças publicitárias que têm como objetivo apresentar os ingredientes da cerveja. Entusiasta do mercado artesanal, Van Waesberghe falou bastante sobre as mudanças na indústria da bebida.

[LEIA MAIS:Blumenau recebe congresso sobre ciência e mercado cervejeiro]

No Brasil, a Heineken é vista como um marca do segmento de cervejas premium. Ela está mais próxima dos consumidores das populares ou das artesanais?

VAN WAESBERGHE: Como cervejeiro da Heineken, acho que a marca tem que estar mais perto das artesanais. Fazer cerveja em uma grande cervejaria é como fazer em uma pequena. Quando vejo a Heineken, vejo três ingredientes, bons resultados, uma receita de quatro gerações e uma empresa familiar.

Na peça em que você contracena com o Del Toro, você rejeita ingredientes além de malte, lúpulo e fermento na Heineken. Recém-comprada pela marca, a americana Lagunitas (50% da empresa foi vendida para a Heineken) usa outros ingredientes.

A Lagunitas é um parceiro. Eles que vieram até nós, acreditaram num grupo familiar. São os que mais crescem nos Estados Unidos e sabiam que precisavam de uma ajuda para crescer. Eles precisavam de muito dinheiro e podiam escolher se pegavam no banco, de investidores ou se iam para uma cervejaria maior, como a Heineken. Não fizemos a compra, somos parceiro com sociedades iguais.

E eles têm cervejas com café e açúcar mascavo.

A Lagunitas é um outro conceito. Estive lá na Califórnia, um bar com área aberta, é fantástico. Eu, como cervejeiro, gosto dessa nova direção. Açúcar mascavo, café... é normal. Uma IPA também tem só três ingredientes, mas você pode ter laranja, por exemplo. Você escolhe sua marca, a Heineken faz tradicionais lager com três ingredientes (água, malte e lúpulo). Num dia quente, fico com uma Heineken. Em outros, posso tomar IPAs da Lagunitas.

 

 

Imaginou algum dia que cervejarias como a Lagunitas alcançariam esse tamanho?

O mundo mudou drasticamente. Em estudei na Siebel Institute, em Chicago, com dois ou três alunos que queriam começar suas próprias cervejas. Todos os outros queriam trabalhar nas grandes cervejarias. Agora é diferente, todo mundo quer começar a sua. O consumidor mudou. Ele quer saber o que bebe, talvez estejamos uma pouco atrás disso. Eles (cervejarias menores) pegam as tendências mais fáceis. A Heineken foca na qualidade desde o início, mas talvez tenhamos esquecido de falar sobre o que as pessoas estão bebendo. Estamos alguns anos atrás, mas, por isso, começamos essa campanha em setembro do ano passado.

Muitas pessoas se perguntam qual é o futuro do segmento premium e artesanal no Brasil com a crise econômica. Qual é a sua aposta?

A tendência é por mais variedade e por mais qualidade, mesmo com preço mais alto. Essa tendência continua nos Estados Unidos, onde vai chegar a 20% do mercado, e é o que vai acontecer na maior parte dos mercados. Nos mais desenvolvidos, a demanda vai ser por variedade e com consumidores mais maduros, que querem beber cervejas diferentes. A IPA não vai ser 80% ou 95% do mercado, como são as lager, mas vai tomar uma parte. Acho também que vamos tomar um volume do vinho. Nos Estados Unidos, você vai ao restaurante e tem um grande cardápio de cerveja, nele é que tem vinhos, só com uma descrição. O Brasil é um país enorme e com muitas pessoas que têm um estilo de vida parecido com americanos e europeus.

Entre as grandes no Brasil, a Heineken é a única sem uma cervejaria no perfil das artesanais (Ambev, Brasil Kirin e Grupo Petrópolis têm). A marca pretende alcançar esse segmento?

No Brasil não tem, mas no mundo temos uma porção de cervejaria pequenas. Testamos conceitos. No Chile tem a Kunstmann. Em Singapura, a Archipelago. Na Nova Zelândia, a Black Dog, que faz cervejas que, se ficarem boas, passam para uma fábrica maior. Se continuar dando certo, é feita nacionalmente. Mudamos as receitas a cada três meses. Na Áustria, que é um país pequeno, temos sete cervejarias e cada uma faz a sua receitas.

A compra da SABMiller pela ABInbev será a última das grandes fusões no mercado?

A Heineken é impossível de comprar... Foi por isso que foram para a SAB(Miller). A Carlsberg também acredito que seja impossível. Não sei se os japoneses (Kirin) crescem por eles mesmo, talvez comprando. O mercado tem grandes competidores. Mesmo eles muito concentrado, estamos vendo muitas pequenas cervejarias. Acho que a Heineken nunca vai ser capaz de competir em custo (com as maiores), mas vamos competir em qualidade e eles devem estar nervosos sobre isso.

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