Olho para a tela do computador e vejo o branco, o vazio. Há um ano, enfiei na cabeça a ideia de morar fora, e o sonho da vida, agora, é de verdade. Vou-me embora pra Lisboa. Vocês vão pensar: está na moda. Guardo pra mim o “paciência”. A ficha não caiu. Alegria e euforia ocupam os meus dias.
Sento para escrever um post de despedida, “a saideira”. Me lasco. Quase cinco anos de blog. Oito de O Globo (quatro no Rio Show, que me fizeram badalar ainda mais, que fase!; e quatro na sonhada vaga na Revista). Uma eternidade da Turma de Ouro (brilhante equipe do Jornal de Bairros). Se eu jurava que não tinha apego a alguma coisa por aqui, pinto uma lista infinita do que fazer antes de partir e do que já sinto falta. Sim, sou dessas, sofro por antecipação.
Mergulho, água de coco, calçadão, sol na janela, novela pra conseguir uma bike Rio, tapioca na feira, pastel e caldo de cana pra curar a ressaca, almoço no Bar Lagoa, clube com meus pais e minha irmã, chuveirão e canga no Aterro. Lá se vão os meus dias. Já passou do meio-dia? (pergunto nos finais de semana ao Núcleo Duro, chat das amigas-irmãs). Se for dia (in)útil: Pode começar a coceira na quarta-feira?
Abro a primeira cerveja. Ando um bocado redundante. Pavão Azul (com patanisca e caldinho de feijão), Alfa Bar (com porção de queijo-coalho ou hamburguer da Comuna), Tasca Carvalho (atual bar preferido em Copacabana), Adega Pérola, Madrid, Sat’s, Astor, Raimundo, Bambi, Fofis. São muitos os ambulantes pelo caminho. “Amigo, pega uma lá no fundo, bem gelada pra mim”. Minhas amigas implicam. Amo vocês.
Um brinde aos eventos. Ao ar livre. Ao Bip de cada dia, ao Alfredo. Pagode do Biro, Samba do Peixe, Rena, Sucupira, Acarajazz, Bailão, Galpão Ladeira das Artes, Circo, Rival, Santa, Parque das Ruínas, Praça São Salvador, Praça Tiradentes, Praça Paris e da Harmonia. À cracudagem. Se eu começar a falar de carnaval, piriga não ir mais. Como sobreviver sem o Boi Tolo? Se falar sobre o Tambores de Olokun, aí é que não vou mesmo. Me despeço girando a saia, arrepiada de corpo inteiro, ouvindo o toque das alfaias. Quem vive, sabe. Quem vê, sente.
Volto já, Rio. Vou sentir saudades! Hoje tem Saideira!