Uma cerveja envelhecida por um ano em barris de Bourbon, armazenada em uma mina de gesso a 100 metros da superfície, com nota 100 em um dos principais sites de avaliação de cerveja, o Ratebeer, e vendida apenas uma vez ao ano. Essa é a história da Kentucky Breakfast Stout, ou apenas KBS, da americana Founders, de Michigan. Trata-se de uma Imperial Stout com 12,4% de teor alcoólico, adição de baunilha e café, e que, neste sábado, 16, será vendida pela primeira vez no Rio - na Sublime Cervejas, no Flamengo.
LEIA MAIS: Mestre-cervejeiro global da Heineken: 'Hoje todos querem abrir uma cervejaria'
Mas, afinal, qual é o fator determinante para que uma cerveja se torne cultuada, isto é, para que uma cerveja vire uma espécie de mito, seja mencionada em rodinhas de especialistas e vire objeto de desejo de quem está se iniciando nesse universo? Para responder a essa pergunta, o SAIDEIRA trocou uma ideia com Brian May, vice-presidente de negócios internacionais da Founders, 20ª maior cervejaria artesanal dos EUA. E, sim, o cara é homônimo do guitarrista do Queen que compôs "We Will Rock You".
Saideira: O que uma cerveja precisa para ser cultuada?
MAY: A KBS é feita há pouco mais de 10 anos. No início, não eram muitas cervejarias usando envelhecimento em barril. Naquele momento, ainda era uma experiência única num mercado menor, mas que já tinha consumidores estudiosos. Eles começaram a falar com os amigos sobre a KBS, mas, como fazíamos um volume pequeno, era difícil de encontrar. Existia uma lenda, tudo muito doido, uma máquina de hype. Para outras cervejarias, hoje, vai ser mais difícil ganhar essa repercussão, esse mundo da cerveja já mudou muito, tivemos sorte no "timing". Em 2016, pela primeira vez, fizemos uma venda pela internet em que 300 mil pessoas entraram no nosso site para comprar 3.000 tíquetes e, assim, terem direito a comprar as cervejas. Antes, as pessoas ficavam esperando do lado de fora da nossa cervejaria, chegavam cedo e a coisa ficava tensa.
Criar o "hype" pode ser planejado?
MAY: Definitivamente não foi planejado com a KBS. Na primeira vez, ninguém falava sobre ela. As cervejarias artesanais não dão tanta atenção para o marketing, quase sempre limitam-se a eventos locais. Geralmente, seja na cerveja ou em outras categorias de produto, quem cria o hype é o consumidor. É difícil dizer o que constrói isso, mas a cerveja fala por si e as medalhas e presença em rankings globais ajudam.
O sucesso em sites de avaliação foi fundamental?
MAY: Não pensamos em sites de avaliação ao fazer as cervejas, mas prestamos atenção. Muitas pessoas dão notas, não é algo que se possa comprar. Nós ficamos felizes por termos várias cervejas bem avaliadas. Mas somos humildes, só queremos fazer cervejas que nós queremos beber. É a nossa atitude. Esses sites são importantes, especialmente quando vamos a outro país, como o Brasil. Há um senso de credibilidade que nos beneficia. Mas muitas cervejarias ainda não foram descobertas, não têm as melhores posições nos rankings. Eu tento sempre dar uma chance (na hora de comprar).
A história das minas de gesso também deve ajudar...
MAY: Com a KBS, começamos a experimentar os barris de Bourbon de Kentucky e veio o sucesso. O problema era que a cerveja ficava durante um ano nos barris e não tínhamos muito espaço para isso. Tem um cara daqui (de Grand Rapids, em Michigan), que tinha uma mina de gesso que não estava sendo usada. Ela fica numa rede de cavernas de seis quilômetros de extensão, a cerca de 100 metros abaixo da terra e a uma temperatura que os mestre-cervejeiros gostam, de 4ºC a 6ºC. Nossos projetos de barris estão se expandindo, hoje temos cerca de 10 mil e acabamos de ampliar nossa fábrica, mas vamos manter barris em algumas minas. As cavernas têm algo sexy. Não é algo mágico para a cerveja, mas é especial.
E podemos esperar uma presença maior da Founders no Brasil?
MAY: Devemos ir ao Brasil no ano que vem para visitas promocionais. Estamos animados, somos novos no país, mas estamos atentos ao que está acontecendo. Para nós, é importante ser a principal cervejaria a fincar a bandeira do movimento americano. Estamos em 22 países, a maioria na Europa, e decidimos criar um departamento internacional. Estamos com equipes em três países, México, Alemanha e Dinamarca, e vemos a nossa presença no exterior em algum dia maior do que nos Estados Unidos.
LEIA MAIS: O que mudou na Colorado um ano depois da venda para a Ambev