*Íntegra da matéria publicada no Rio Show, em 1º de julho de 2016
Quando o Delirium Café abriu as portas, em 2010, com dez torneiras de chope, os cariocas ficaram surpresos com a variedade, e alguns duvidaram se haveria público para isso. Três anos depois, o Botto Bar, na Praça da Bandeira, entrou no jogo e com o dobro de chopes. Um pouco mais tarde veio o Pub Escondido, em Copacabana, com 24. Com a multiplicação de bares do gênero na cidade, a disputa ficou mais acirrada. Nas próximas semanas, serão abertos bares com 30, 36, 40 e 50 torneiras jorrando diferentes cervejas artesanais.
— O número de torneiras é um marketing, mas não é o que determina se um bar é bom. Tudo depende do que você vai servir — defende Leonardo Botto, do Botto Bar, que vai abrir em agosto uma filial na Barra e, no mês seguinte, em Botafogo. — Todas as escolas cervejeiras devem estar presentes e equilibradas. Tenho alemãs, belgas, inglesas, tchecas e americanas. Pode ser que não tenha uma cerveja da Alemanha, mas vai ter uma brasileira num estilo alemão.
Qualidade de equipamentos, sanitização de mangueiras e capacidade da câmara fria são alguns dos fatores determinantes para a qualidade do produto. Um outro é velho conhecido dos tempos de opção única na chopeira: consumo alto. Quando mais gente no bar, em menor tempo o barril é esvaziado. Quanto mais fresco, melhor. Por isso, há quem mantenha algumas torneiras para ocasiões especiais, como o Colarinho, em Botafogo, que terá 36, mas apenas 20 de uso diário.
— Existe uma guerra velada pelas torneiras, mas dá trabalho. Quando você ganha essa competição, ganha responsabilidade — diz Diego Baião, dono também do Birreria Escondido, em Botafogo, e do Pub Escondido. — O que a galera está bebendo mais são as IPAs (estilo India Pale Ale, conhecidas por serem amargas). De preferência, terminando a noite com uma Imperial Stout (escura com sabor de malte torrado e alto teor alcoólico).
Quem está prestes a lançar uma Double Imperial Stout é a Hocus Pocus, cervejaria cigana carioca — nome dados àquelas que não têm fábrica própria. A Time Travel será o chamariz do lançamento do restobar da marca, em Botafogo. Ela leva baunilha, cacau do, café e coco e tem teor alcoólico de 15%, ousadia impensada há pouco pelos cervejeiros cariocas. Serão 12 torneiras e incentivo do uso do growler, garrafas de vidro ou cerâmica para levar o chope para casa. Quando o bar for inaugurado, em setembro, Botafogo chegará à marca de 150 torneiras.
No começo um negócio com jeito de passatempo, as marcas cariocas se profissionalizam e diversificam o portfólio. Há três semanas, a 3Cariocas venceu o Mondial de la Bière, no Canadá, com uma receita de 10,2% de álcool que mistura os estilos Belgian Strong Ale com IPA e é envelhecido em barris de carvalho usados em uísque. Tal personalidade própria ajuda marcas como 2cabeças, Three Monkeys, Motim e Oceânica a formarem um público próprio no Rio e até a chamarem a atenção de quem vem de fora. O fenômeno é perceptível para Ana Paula Ferreira, do Booze, com 16 torneiras na Lapa.
— Os americanos que vêm aqui experimentam a nossa IPA e ficam surpresos. Num dia desses, uns alemães estavam bebendo só importadas, e falei sobre as nossas. Eles tomaram e levaram para casa garrafas de Hip Hipos (uma American Pale Ale, ou APA, da carioca Green Lab) — conta Ana Paula. — E olha que esses caras estão acostumados com um altíssimo nível.
BOTAFOGO E HUMAITÁ
A cada bar especializado em cervejas artesanais na região, os empresários são questionados se ainda há demanda para tanta oferta. Por enquanto, a resposta é sim. Por lá está o Colarinho, que, em 2010, democratizou os chopes artesanais ao tirá-los do ambiente de “beer geeks” (os nerds cervejeiros) e colocá-los num boteco (o.k., um pé-limpo). No fim do mês, no aniversário dos seis anos, será inaugurada a expansão para 36 torneiras. A 100 metros dali, o mesmo empresário abriu em janeiro passado a Birreria Escondido, casa de pizzas artesanais com 16 tipos de chopes.
O The Boua e suas 19 torneiras são vizinhos do Colarinho, na Nelson Mandela (a “rua nova”). Uma das diversões por lá é acompanhar quais serão as próximas cervejas a serem conectadas (ou espetadas nas torneiras), já que um quadro negro avisa não apenas as marcas disponíveis na hora, mas também as que estão na fila para entrar. O nome do Lupulino já entrega: tem um público fã de cervejas lupuladas — ou seja, amargas, algumas cítricas, outras florais, muitas IPAs. O bar é bem cervejeiro e, com frequência, abriga turmas de estudiosos do líquido. No Teto Solar, a vibe é outra. A casa descolada foi uma das primeiras não cervejeiras a abrir espaço para os chopes artesanais. A coisa ficou séria, e hoje são 12 torneiras por lá. Há também harmonizações em parcerias com cervejarias, como a Motim.
A futura recordista de torneiras do Rio será a filial de Botafogo do Botto Bar, que é aguardada há bastante tempo e cujo número de torneiras no balcão já virou lenda. Falou-se em 25, 40, mas o martelo foi batido: serão 50, a maior variedade do Brasil. O local, na Rua Henrique Novais, já abrigou o bar Salvação, está sendo completamente remodelado e vai ganhar uma cobertura no terceiro andar — uma espécie de rooftop cervejeiro. Uma das atrações, além da cerveja, é o dono: Leonardo Botto, responsável por ensinar mais de 1.600 pessoas a fazer cerveja em casa, curso que ele segue oferecendo. Na matriz da Praça da Bandeira, com 20 torneiras, ele eventualmente coloca apenas receitas de cervejarias de ex-alunos. Com 50 torneiras, o desafio promete ser mais difícil, mas não vale a pena duvidar. Ajuda o fato de ter sua própria marca, a recém-lançada The Craft.
Outra aguardada inauguração é da Hocus Pocus DNA, o restobar da cervejaria cigana carioca, a mais elogiada por especialistas do meio. Com uma marca psicodélica e boas receitas, eles conquistaram desde a turma alternativa do Comuna ao público do requintado restaurante Lasai — os dois lugares, por sinal, já receberam lançamentos da Hocus Pocus. É a primeira vez que uma cigana do Rio terá um ponto de venda deste porte, o que, os sócios garantem, possibilitará ousadas experiências. Atualmente são cinco os rótulos, mas o número vai aumentar. A primeira delas é uma aguardada Double Imperial Stout de 15% de teor alcoólico. Um dos charmes da casa promete ser o próprio local: uma antiga oficina que manteve as paredes originais de tijolo expostos e o chão sem acabamento.
Descendo para o Humaitá, perto do restaurante Plebeu, o Metrópole estreou há menos de dois meses suas 12 torneiras seguindo a linha “beba local”. Apenas receitas de marcas do Rio são conectadas. Ciganas como a Kurumã e a Secreta já lançaram rótulos por lá. Para quem também é fã de esporte, vale a pena avisar: eles não têm vergonha de exibir partidas de futebol na televisão.
Birreria Escondido— 16 torneiras. Rua Voluntário da Pátria 53, Botafogo (3489-9989).
Botto Bar— 50 torneiras. Previsão de abertura: setembro: Rua Henrique de Novais 71, Botafogo.
Colarinho— 36 torneiras. Rua Nelson Mandela 100, Botafogo (2286-5889). Previsão de expansão das torneiras: segunda quinzena de julho.
Hocus Pocus DNA— 12 torneiras. Previsão de abertura: setembro. Rua Dezenove de Fevereiro 186, Botafogo.
Lupulino— 16 torneiras. Rua Professor Álvaro Rodrigues 148, Botafogo (2535-0988).
Metrópole— 12 torneiras. Rua Capitão Salomão 57, Humaitá
Teto Solar— 12 torneiras. Rua Paulo Barreto 110, Botafogo (2542-9458).
The Boua— 19 torneiras. Rua Nelson Mandela 100, Botafogo (3083-7420).
COPACABANA
O bairro é a casa do bar que, por enquanto, é o recordista de torneiras da cidade: Pub Escondido. Do mesmo dono do Colarinho e do Birreria, oferece 24 as opções de cerveja on tap, entre elas, sempre muitas IPAs. Apesar de ser bem espaçoso, seu salão está sempre cheio e lota em datas comemorativas no mundo cervejeiro, como St. Patrick’s Day e Oktoberfest.
A novidade do bairro tem previsão de inauguração para a segunda quinzena deste mês. É o BeerLab, bar de um casal de apaixonados por cerveja que sentia falta de lugares que estivessem dispostos a encher seus growlers, para que levassem chope para casa. Nos Estados Unidos, é muito comum e as cervejarias e os bares já venceram o previsível temor de que a cerveja vai ficar choca. Consumido em até cinco dias e, de preferência, em uma mesma noite, o líquido não perde suas características. O bar terá dez torneiras e pode ser útil para quem quiser levar uma artesanal para a praia.
BeerLab— 10 torneiras. Previsão de abertura: segunda quinzena de julho. Rua Souza Lima 16-C, Copacabana.
Pub Escondido— 24 torneiras Rua Aires Saldanha, 98, Copacabana (2522-9800).
IPANEMA E LEBLON
Ipanema foi o primeiro bairro a ter uma casa com 10 torneiras do Rio, e o Delirium Café, aberto em 2010, se manteve como a única do bairro a apostar numa “grosseria” de torneiras até lançar sua segunda casa, que terá 20 torneiras. Elas ficarão a apenas um quarteirão uma da outra, mas a aposta será diferente. Se a primeira — num clima aconchegante, especialmente no primeiro andar e até com um parklet do lado de fora — segue os padrões da famosa marca belga Delirium Tremens, a segunda promete ter outro clima. A ideia será fugir da tradicional (e, para alguns, entendiante) dobradinha cerveja-hambúrguer. Com luzes baixas e um clima de lounge, a casa aposta em comida oriental e promete mostrar que é possível harmonizar cerveja com as culinárias japonesa e tailandesa.
Em julho do ano passado, a cervejaria niteroiense Noi aportou no Rio com um bar no Leblon, que tem 13 torneiras. Apesar de já possuir um portfólio particular extenso, o local abre espaço para torneiras visitantes, geralmente três de ciganas cariocas. A Noi fica ao lado de outro bar muito frequentado por cervejeiros, o Herr Pfeffer, sem a megalomania de torneiras, mas famoso pelo joelho de porco — este sim, enorme.
Delirium Café— 10 torneiras. Rua Barão da Torre 183, Ipanema (2502-0029).
Delirium Tap House— 20 torneiras. Segunda quinzena de julho. Rua Nascimento Silva 49, Ipanema.
Noi— 13 torneiras. Rua Conde de Bernadotte 26, Leblon (2259-4561).
BARRA E RECREIO
O Jardim Oceânico foi o lugar escolhido pelo Brewteco, nascido no Leblon, para sua grande investida. São 21 torneiras e amplo espaço que abriga cursos cervejeiros, como a de harmonização com queijos, que será ministrada por Daniel Martins no próximo dia 16. Além de incentivar o consumo em growlers, o bar tem uma régua de degustação, que, na verdade, vem em um azulejo com quatro copos de 150 ml. É a pedida para quem quiser beber todas disponíveis.
Em agosto, o bairro vai ganhar um Botto Bar, que terá 40 torneiras e ficará no Vogue Gourmet, empreendimento gastronômico que está sendo chamado de a “Dias Ferreira da Barra”. No Recreio, o Botequim do Itahy tem sua terceira loja voltada para as especiais, com dez torneiras.
Brewteco— 21 torneiras. Av. Olegário Maciel 231-J e K, Barra (3986-1012).
Botto Bar— 40 torneiras: Previsão de abertura: agosto. Av. das Américas 8.585, Barra.
Botequim do Itahy— 10 torneiras. Av. Alfredo Baltazar da Silveira 520, Recreio dos Bandeirantes (2408-3742).
GRANDE TIJUCA
Botafogo pode até ter mais bares com grande variedade de torneiras, mas é comum ouvir falarem que a Tijuca, ou a Grande Tijuca, é o verdadeiro bairro cervejeiro do Rio. A impressão fica mais forte devido a presença do Botto Bar e suas 20 torneiras de chope na Praça da Bandeira. Ele ganhará em breve um concorrente de peso: o Hop Lab, com 30 torneiras. Investimento de nove amigos que estudaram no São Bento, o local se propõe a ser uma empresa de cerveja artesanal. Já na abertura, o bar venderá roupas e acessórios ligadas à temática. Embora tenha apreço pelas cariocas, o bar também reservará torneiras a barris de cervejarias cultuadas que nem sempre são fáceis de encontrar s no Rio, como a paranaense Bodebrown, a americana Ballast Point e a dinamarquesa Evil Twin.
Perto dali, na região da Praça Varnhagen, está o On Tap Pub. Conhecido por ser um dos bares de chope com preço mais em conta da cidade, ele vai ampliar seu leque. Das atuais oito torneiras, passará para 20. Já mais para os lados do Rio Comprido, está o recém-inaugurado São Bartolomeu, num simpático imóvel que teve características do antigo estabelecimento, uma mercearia, preservadas. As cervejas que abastecem as 12 torneiras vêm de Juiz de Fora (MG), onde fica a fábrica da cervejaria. A Tijuca ainda tem a concentração de 14 torneiras no Food Park Carioca, no estacionamento do Extra, não em um único bar, mas divididos por diferentes beertrucks.
Botto Bar— 20 torneiras: Rua Barão de Iguatemi 205, na Praça da Bandeira (3496-7407).
Hop Lab— 30 torneiras: Previsão de abertura: agosto. Rua Barão de Iguatemi 292, Praça da Bandeira
São Bartolomeu— 12 torneiras: Rua Barão de Itapagipe 118, Tijuca (2147-9529).
On Tap Pub— 20 torneiras: Previsão de expansão: agosto. Rua Major Ávila 455, Tijuca.
LAPA E CENTRO
Bar que fez a maior aposta de chopes diferentes na Lapa, o Booze vive uma rotina similar ao bairro. No happy hour, com doses duplas de chopes Eisenbahn (R$ 14,90), às terças e quartas, o público costuma ser de quem está saindo do trabalho no Centro — por isso, a casa aposta também em drinques. Mais tarde, duas horas antes de os shows na região, especial mente no Circo Voador, é a vez de a turma fazer um esquenta com artesanais. Como é a Lapa, sempre pintam gringos por lá, mas o bar não perde o espírito carioca. Das 16 torneiras, ao menos dez delas sempre estão conectadas com barris de marcas do Rio.
No Centro, o Botequim do Itahy apostou na variedade de chopes para atrair um público na hora do almoço e no happy hour e a tendência é que todas as demais casa da rede sigam o exemplo. Embora não seja conhecido como um espaço do público cervejeiro, a casa tem apostado na presença de barris de cervejarias cariocas, especialmente para substituir marcas importadas.
Booze— 16 torneiras. Av. Mem de Sá 63, Lapa (2252-1588).
Botequim do Itahy— 22 torneiras. Av. Nilo Peçanha 44, Centro (2292-8116)
Botequim do Itahy— 13 torneiras. Rua Araújo Pôrto Alegre 56, Castelo (2220-0918).
NITERÓI
De todas os 25 casas repletas de torneiras, a Noi de Itaipu é a única que vem acompanhada por uma cervejaria completa. Enquanto se degusta as cervejas mais frescas possíveis, dá para ver a produção através do vidro. No Jardim Icaraí, o beer sommelier Gustavo Renha é o consultor do Armazém São Jorge, com dez torneiras.
Noi—13 torneiras. Estrada Francisco da Cruz Nunes 1.964, Itaipu, em Niterói ( 2709-3939).
Armazém São Jorge— 10 torneiras. Rua Dr. Leandro Mota 8, Jardim Icaraí, Niterói.