Quantcast
Channel: Saideira - O Globo
Viewing all articles
Browse latest Browse all 2331

Conheça o enólogo português João Menéres, da quinta geração à frente da Quinta do Romeu

$
0
0

João Menéres, quinta geração à frente da Quinta do Romeu

Falar da Quinta do Romeu, bem ao Norte do Douro, é falar de História, mais especificamente de como tudo teve início, no século XIX. E também de um personagem: o português Clemente da Fonseca Guimarães, nascido em 1843, além de sua energia e persistência. Ele é o precursor da vinícola que adotou a agricultura biológica para suas videiras e também para as oliveiras, além de usar práticas biodinâmicas. E que produz um dos melhores azeites do mundo e elogiados vinhos, vendidos para Europa, América e Ásia.

- A configuração da Quinta do Romeu era um mosaico na época do meu trisavô e até hoje é assim. Ficou essa biodiversidade. Esse pri ideia foi fulcral para o que é hoje: a harmonia entre as pessoas e a natureza. O princípio número 1 da biodinâmica é olhar para a agricultura como um organismo único: animais, plantas, o homem, os astros - conta o enólogo João Menéres, da quinta geração à frente do negócio, ao apresentação dos vinhos pela internet organizada pela Wine Lovers.

Aos 15 anos, Clemente deixou Portugal rumo ao Rio de Janeiro, onde moravam parentes, regressando após cinco anos para dedicar-se ao comércio, por caminhos que passaram pela Europa Central, o Leste daquele continente e o Oriente Médio à procura de mercados. Acrescentou um sobrenome, Menéres, e fundou sociedades para exportar produtos portugueses: vinhos, conservas e cortiça. Foi o criador da primeira fábrica de conservas e da primeira de rolhas em Portugal. Comprava as rolhas do Alentejo, e decidiu, em 1874, partir para o Douro em busca de sobreirais. Como não podia comprar cortiças, adquiriu terras com árvores. Criou uma propriedade, a Quinta do Romeu, com áreas espalhadas pelo distrito de Bragança. Replantou os vinhedos dizimados pelo inseto filoxera, além de alargar os olivais.

- Ele comprou várias pequenas parcelas de terras. Para se ter uma ideia, foram mais de duas mil escrituras. Há algumas dispersas, aonde levamos até uma hora para chegar - explica Menéres.

Cacho de uva da Quinta do Romeu: agricultura biodinâmica



Com vinhos de qualidade e de terroir, Clemente é autorizado a produzir Vinho do Porto, na remodelação da Região do Douro de 1907. Foi a feiras na Europa e na América do Norte e do Sul. Em 1902 funda, com os filhos, a Sociedade Clemente Menéres Ltda, que comanda até 1916, ano de sua morte. Seus descendentes o sucedem e vão aperfeiçoando o negócio.

Biodinâmica desde 2012

Em 1992, o olival foi convertido para a agricultura orgânica. Já os vinhedos, desde 1997. Em 2012, a quinta adotou a biodinâmica. Junto de vinhas (25 hectares), olivais (120 hectares) e sobreirais, convivem aves, esquilos, rebanhos e javalis.

- Quando eu e meu pai íamos a feiras de vinhos provávamos alguns rótulos vinhos de países como a França, percebíamos delicadeza, equilíbrio e elegância. Em comum, eles eram biodinâmicos. Nossa ideia foi experimentar.

João Menéres conta que, ao longo dos anos, notou que seus vinhos passaram a ter os mesmos predicados que admirava:

- A grande diferença é na vinha, no solo, na reação da planta às geadas, às intempéries, aos infortunos diários. Há flutuações, há impacto, mas sentimos que a vinha reage melhor à adversidade. A biodinâmica são como os amigos positivos - explica.

Biodiversidade na Quinta do Romeu

Ele brinca que "a vida é dura no Douro":

- As uvas que sofrem com o calor, com a falta d'água. No inverno, é de manhã à noite com frio nos ossos - brinca.

Os vinhos refletem o cuidado com as videiras. Mesmo com a robustez do Douro, têm elegância e frescor. Já na adega, a proposta é um mínimo de interferência. As fermentações dos tintos ocorrem em lagares de granito, com leveduras indígenas. A quantidade de SO2 é reduzida, e a maioria das madeiras de estágio é usada.

- O uso do sulfito é controverso e é o único produto que adicionamos ao vinho. É uma utilização rigorosa, com experiência. Sabemos a dosagem. Um vinho com menor intervenção não se queixa. A União Europeia permite o uso em vinhos orgânicos e estabelece a quantidade - assegura.

Garrafas leves

Outra preocupação na quinta é com a sustentabilidade, com cuidado com o consumo de água e com o peso das garrafas:

- Meu bisavô fez uma barragem perto da floresta de sobreiros. Não temos consumo desnecessário de água. Já nossas garrafas são leves, de 450g a 460g, o que faz diferença na logística - explica.

As uvas são selecionadas manualmente na vinícola

A altitude média das vinhas da Quinta do Romeu é de 300 metros, com exposições solares diversas. O solos são de xisto, na transição para o granito. Já o clima é continental: é seco com grandes amplitudes térmicas diárias e anuais.

- Pela nossa localização, o ciclo anual das nossas vinhas ocorrem duas a três semanas mais tarde que em outras áreas do Douro. O ciclo se atrasa um pouco - detalha.

Ele diz que são produzidas 90 mil garrafas ao ano. Desse total, 5 mil são de brancos. E ressalta que as safras de seus vinhos têm absoluta e total variação:

- Primeiro porque não compramos as uvas. Estamos dependentes do clima. Não temos controle. Temos os pés nos vinhedos. Qualquer intervenção é por antecipação. Não podemos ser reativos. Temos diferentes solos e altitudes. Um ano diferente faz um vinho diferente - ensina.

João acrescenta que não é possível ter o mesmo vinho dois anos seguidos:

- Teríamos que ter milhões e milhões de litros de vinhos para isso. E que houvesse muita intervenção para disfarçar o ano e o caminho - sentencia.

'Um lavrador'

João Menéres não se define como enólogo, mas como um lavrador:

- Sou um lavrador, um produtor. Produzo a fruta e a transformo em vinho. Não é uma alquimia, é um trabalho da lavoura, da agricultura - destaca.

Antes de se dedicar à "lavoura" na Quinta do Romeu, João se formou em economia e trabalhou em funções financeiras na indústria de semi-condutores e de automóvel. Juntou-se ao pai em 2012 para seguir os passos de seus antecessores.

Os vinhedos: mínimia intervenção

Os vinhos no Brasil

Entre os rótulos da quinta, dois são trazidos para o Brasil pela Wine Lovers. O Moinho do Gato Tinto 2015 é elaborado com Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinto Cão, Touriga Franca e Touriga Nacional, colhidas e selecionadas manualmente. São cofermentadas em lagares de granito com estágio em cuba de cimento. Tem 12,5% de teor alcoólico, cor vermelha rubi. No nariz, aromas de frutas vermelhas frescas e jovens. Na boca, suavidade e juventude. Harmoniza com carnes vermelhas, assadas e grelhadas.

- É um corte de uvas tintas com predomínio da Tinta Barroca. Tem um perfil leve, fresco. Ele vai bem sem comida. Não cansa a boca. Seus aromas são mais de frutas vermelhas, primários. É um bom tinto de verão - diz Menéres.

Já o Quinta do Romeu Tinto 2015 é produzido com Touriga Nacional, Touriga Franca, Souzão, Tinta Roriz e Tinto Cão. Também com colheita e seleção manual das uvas, e estágio em cuba de cimento. Não é estabilizado pelo frio e pode criar depósito. Tem cor vermelha cereja e, no nariz, mais complexidade: frutos vermelhos maduros, notas florais, herbáceas e de especiarias. Na boca, tem frescor e boa estrutura, com perfil mais gastronômico. Combina com carnes vermelhas, assadas e grelhadas.

- Ele tem mais taninos, é mais seco. O Souzão entra para dar cor e acidez. Este vinho é um companheiro para a comida. Um amigo com quem aprofundar a conversa, descobrir mais. Pode ser dissecado em várias camadas. Pode ir bem com um molho à carbonara, com gorduras, cabrito, cordeiro, carne de pato.

Há ofertas dos dois vinhos no site da empresa. Uma delas oferece os dois vinhos mais o azeite Quinta do Romeu por R$ 280.

Moinho do Gato: tinto do Douro


Viewing all articles
Browse latest Browse all 2331