Uma das 114 cervejarias da região metropolitana de San Diego tem um jeitinho bem mineiro. É a Novo Brazil, em funcionamento desde maio de 2015, uma investida de Miguel Carneiro e Ustane Pedras com outros três sócios. Fundadores da Wäls, vendida para a AB Inbev no ano passado, eles encontraram no Sul da Califórnia uma maneira de seguir no negócio sem quebrar a cláusula de não-competição no Brasil - os filhos João Pedro e Thiago seguiram na Ambev. Não foi difícil aprender que na região o mercado das artesanais está consolidado.
- Aqui raramente vejo gente bebendo cervejas mainstream, Bud ou Heineken. Se beber, talvez comprem em supermercados. Dificilmente tem nos bares um tap (chopeira) com essas cervejas - conta Carneiro, que fala que isso pode ser uma dificuldade. - O cara do bar tem 20, 30 taps. Você se candidata, mas ele vai querer um barril, dois no máximo. Eu tenho bares com o meu produto, mas nenhum deles vende pra caramba. Tenho que vender no somatório.
A cervejaria fica em Chula Vista, a 20 minutos do centro de San Diego e a 25 da fronteira com o México. Com capacidade para produzir 150 mil litros por mês, a Novo Brazil ainda utiliza apenas 10% de seu potencial. Com a chegada de novos equipamentos para envasar garrafas e latas e com a ampliação da distribuição, a quantidade vai aumentar em breve. O bar da fábrica recebe os visitantes com 25 torneiras e, no futuro, o objetivo é abrir um restaurante. Enquanto isso, food trucks se revezam na porta para matar a fome dos americanos.
- Tem até food truck de comida brasileira com pastelzinho, baião de dois e feijoada - avisa Carneiro.
As ligações com o país de origem dos fundadores não para por aí. Uma das homenagens está na Rio Pale Ale. Por sinal, foi numa fábrica em Benfica, na Zona Norte carioca, que a Wäls produziu suas primeiras receitas. Carneiro orgulha-se de sua Chula Pils, uma pilsen, que, ele garante, é melhor do que qualquer uma dos que seus vizinhos faz. Num mercado tão acirrado, é preciso de mais do que isso para se sobressair.
- Confio no trabalho com os estilos belgas, é uma tradição nossa. Estamos também envelhecendo em barris, como a Quadrupel e uma Imperial Stout. Mas sei que, enquanto não ganharmos uma premiação bacana, o pessoal não vem aqui elogiar e dizer “Óóó!” - avalia.
O empresário lamenta uma reportagam que definiu a Novo Brazil como uma cervejaria satélite da AB Inbev - o que faz questão de ressaltar que não é. O episódio ajuda a demonstrar o grau de interesse que os consumidores americanos de cerveja têm no mercado artesanal.
- Até hoje isso me dá dor de cabeça. “Eles são da (AB) Inbev”, alguns pensam - conta Carneiro.
Apesar do discurso “não somos concorrentes” muito comum no Brasil já ter ficado para trás em San Diego, Miguel não se furta em falar sobre suas preferidas por lá.
- A Ballast Pointé irrepreensível. A Modern Times, que parece meio bagunçadinha, deu um chute na modernidade. Eles têm uma maravilhosa American Wheat, uma Stout com café e uma Hoppy Juice IPA que é fantástica. O tasting room é muito experimental - comenta.
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