Essa foto aí de cima, com uma cerveja artesanal na mão e um jacaré quase ao lado, é a imagem de perfil no Whatsapp do publicitário Edson Carvalho Júnior. Com uma mochila nas costas e conhecimento sobre a produção de cerveja, ele cruzou o Brasil pegando caronas, dormindo na casa de desconhecidos e oferecendo palestras sobre o tema. Quando eu falo que ele cruzou o Brasil, não é exagero: ele passou por todos os estados do país. Agora, a viagem acabou.
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Exatamente nesta quarta-feira, 22 de novembro de 2016, Edson encerra em Londrina - ao menos temporariamente seu novo endereço - uma viagem iniciada em Florianópolis, onde morava. O que era para ser "apenas" um ano de viagem foi esticado para dois anos e meio. Através do Instagram, Facebook e blog, o Viajante Cervejeiro documentou toda sua trip com relatos informativos, aventureiros e, às vezes, levemente bêbado. Normalíssimo. Em sua última parada, em Palmas, no Tocantins, o viajante trocou uma ideia com o SAIDEIRA e já adiantou: vai ter livro e vai ter mais viagem.
- Fechei o ciclo que era passar por todo o Brasil. Agora, tenho que parar para escrever um livro, contando as situações mais curiosas e por onde passei - adianta Edson. - E vou me programar para a próxima viagem, provavelmente para fora do Brasil. Dessa vez, vai ser mais planejada.
SAIDEIRA: A viagem saiu como o esperado?
VIAJANTE CERVEJEIRO: Eu imaginava que seria mais curto, que um ano daria para fazer tudo, mas fui surpreendido pela quantidade de bares e cervejarias. Resolvi deixar o tempo necessário. Em alguns momentos, saí do roteiro, como quando fui convidado pelo Grupo Petrópolis para ir ao Mondial de la Bière, no Rio. Eu estava em Manaus, fui para o Rio e voltei. Também fui ao Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau.
O mercado brasileiro mudou bastante neste período. Como foi acompanhar viajando?
VIAJANTE CERVEJEIRO: Hoje são mais pessoas em contato com o mercado de cerveja artesanal. A chegada (dos rótulos) aos supermercados mostra que não é só uma moda, como alguns diziam. A gente sempre brigou para dizer que não era. O legal é ver que regiões que não eram da cerveja, como Nordeste e Norte, hoje tem Recife e Belém com uma cena forte. Antes, quando íamos num festival de cerveja, era só para quem gostava mesmo. Hoje tem muito curioso, entusiasta, gente que o parente está fazendo cerveja. Teve uma mudança no consumo.
Algum lugar surpreendeu pela cena cervejeira?
VIAJANTE CERVEJEIRO: No Nordeste, Pernambuco se destaca [Falamos sobre isso neste post], mas no Rio Grande do Norte também já tem um lance e, no ano que vem, vai ter um encontro grande de cerveja caseira em Natal (Encontro Nacional das Acervas). Aracaju tem um brewpub (Calles Bar), um bar que fabrica sua própria cerveja no local, algo raro no país. Em Belém, o Festival Amazônico, que é muito ligado a gastronomia, incluiu a cerveja esse ano. Em outros lugares está mais devagar, como no Macapá, que é distante, não tem cervejaria e os rótulos chegam lá caro porque vão de avião ou barco. Tem uma galera se movimentando em Manaus. Alguns estados lembram o que aconteceu no Sul em 2009, 2010, está indo devagar.
Qual foi o maior perrengue da viagem?
VIAJANTE CERVEJEIRO: O maior foi agora já no fim. De Manaus para Porto Velho, pela BR-319. São quase 900 quilômetros no meio da Amazônia, de carona, com muito buraco, motor ruim e demorei três dias [Para ter uma ideia, o Google Maps dá apenas 13h44m de viagem]. Peguei caminhão caindo aos pedaços, com correia arrebentando, sem poder viajar à noite, dormindo na caçamba.
E a melhor cerveja que bebeu?
VIAJANTE CERVEJEIRO: Isso está relacionado com o momento, não necessariamente com a melhor receita. Eu gostei de tomar muitas. Tive um bom momento quando cheguei em Rio Branco, no Acre, o lugar que para para mim era o fim da viagem. Teve também no São Francisco, ou quando comecei a viagem... Foram muitas melhores cervejas.
E a pior?
VIAJANTE CERVEJEIRO: Teve uma ou outra cerveja caseira que as pessoas trazem para provar. Geralmente, eu falo "deixa que eu levo para casa", mas teve uma vez que o cara fez questão que eu tomasse ali com ele. "Bebe a minha cerveja, é a melhor que eu fiz, tá sensacional." E a cerveja estava difícil de tomar de tão ruim. Usei a diplomacia. Não falei que estava ruim, mas também não falei que estava boa.
Como é terminar uma viagem dessas? É hora de tirar as lições?
VIAJANTE CERVEJEIRO: Estou mais ansioso do que cansado. Eu tinha uma ideia e deixei acontecer, "vou ver até onde vai", mas tem uma hora que acaba. Tem que acabar. Eu tirei lições. Uma delas é que aprendi a viver com muito pouco. Estou há dois anos e meio só com uma mochila. Foi um dos grandes ensinamentos. E também que sou capaz de fazer o que quiser a partir de agora. Fiz algo que ninguém tinha feito no Brasil, na casa da galera, bebendo cerveja e pegando carona. Foi uma satisfação muito grande. Fiz amigos e posso dizer que realmente conheci o Brasil inteiro.
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