Com expectativa de receber 50 mil pessoas em cinco dias de evento a partir desta quarta-feira, o Mondial de la Bière chega à quarta edição no Rio como o segundo principal festival de cerveja artesanal do Brasil. Com o crescimento do setor, que antes estava adormecido, o poder público aprende a reconhecer suas nuances. No ano passado, simultaneamente à feira, o prefeito Eduardo Paes assinou um decreto flexibilizando regras de instalação de microcervejarias. Mais recentemente, há uma semana, a Câmara dos Deputados aprovou com unanimidade a inclusão das microcervejarias no Simples Nacional, o que ainda aguarda sanção do presidente.
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Às vésperas do segundo turno que elegerá o próximo prefeito do Rio, o SAIDEIRA viu nascer uma discussão iniciada no Facebook pelo jornalista Roberto Fonseca, especialista em cerveja, sobre a visão dos candidatos à prefeitura carioca com relação ao tema. Nesta terça-feira, a menos de três semenas da eleição e véspera do evento de cerveja mais importante da cidade, o blog publica as respostas enviadas por e-mail por Marcelo Freixo (PSOL) e Marcelo Crivella (PRB).
SAIDEIRA:O Brasil vive um boom no setor de cervejas artesanais e a cidade do Rio, segundo maior consumidor de cerveja no Brasil, é considerada com grande potencial de crescimento (municípios de SC, RS, PR, SP e MG passaram por este momento antes). Na capital, existem hoje apenas três microcervejarias, porém mais de 30 marcas cariocas produzem em municípios da Região Serrana ou em SP e MG. Se eleito, o senhor pretende incentivar esta indústria?
FREIXO: Claro. A cadeia produtiva de cervejas artesanais já é uma realidade e deve ser reconhecida, expandida e valorizada pelo Poder Público.
CRIVELLA: Claro! Se a cidade tem um setor da economia com potencial de crescimento, a prefeitura tem que olhar para a área com profissionalismo. Como prefeito, quero estimular o empreendedorismo, fomentar diversos setores: serviços, tecnologia e, porque não, as microcervejarias. Vamos qualificar a mão de obra, estimular o investimento de outros jovens empresários. Se eleito, vou procurar os empresários, entender as demandas do setor e buscar soluções. A cidade precisa de empregos diversificados. Não podemos ficar dependentes de grandes obras. Esse período já passou.
Em 2015, o prefeito Eduardo Paes criou um decreto em que flexibilizou as exigências para a instalação de microcervejarias na cidade. Apesar do decreto, empresários reclamam que seguem esbarrando nas mesmas dificuldades, como as limitações de zoneamento urbano. Com isso, muitas estão indo para municípios da Região Serrana, que oferecem isenções fiscais, como Nova Friburgo, ou um diálogo mais direto com o poder público. Como fazer para os empresários cariocas deste ramo instalarem fábricas na cidade?
CRIVELLA: Dialogando. A atual gestão não ouve, não conversa e toma medidas que não resolvem problemas. A minha proposta de construir estacionamentos na cidade surgiu de conversas com comerciantes do Centro, da Zona Norte, da Zona Sul. É na base da conversa que vamos chegar às melhores soluções. Se há empresários dispostos a investir na cidade, a gerar empregos, a prefeitura não pode virar as costas.
FREIXO: Vamos conversar com os produtores para entender melhor as demandas e saber como ajudar. Talvez incentivar a instalação de cooperativas onde vários fabricantes possam produzir suas cervejas. Podemos pensar também em outros tipos de parcerias e incentivos para que essas cervejas possam ser fabricadas aqui na cidade. Isso, inclusive, vai baratear o custo para o consumidor final.
Na cidade, há um grande festival de cerveja, o Mondial de la Bière, que, segundo o site oficial, é patrocinado pela Prefeitura. Além dele, espaços públicos, como Quinta da Boa Vista, Lagoa, Praça do Ó e Cidade das Artes, são usados em diversas feiras de cerveja artesanal que, nos últimos dois anos, passaram a acontecer em quase todos os finais de semana. Se eleito, o senhor vai estimular ou coibir eventos cervejeiros em espaços públicos? O município seguirá patrocinando grandes eventos do setor?
FREIXO: O estímulo para grandes festivais e feiras é fundamental. No caso dos grandes festivais, eles podem até ajudar a estimular o setor de turismo, por exemplo. Vamos estimular as feiras. Elas são um grande exemplo de ocupação do espaço público e podem misturar gastronomia e cultura, fortalecendo aquilo que será muito caro na nossa gestão: o encontro das pessoas nas ruas e praças da cidade.
CRIVELLA: Os espaços públicos devem ser usados com responsabilidade e organização. Os eventos que existem e já dão certo não devem ser alterados. Podemos aperfeiçoá-los, mas não coibi-los. É preciso que eles tenham segurança, limpeza, cuidado com o espaço público. Vamos analisar os números dos patrocínios e dar todo o suporte necessário, mas sempre com responsabilidade fiscal. O Rio de Janeiro tem essa vocação: eventos ao ar livre, democráticos. Temos que ser incentivadores.
Como a prefeitura pretende conduzir a organização do carnaval de rua do Rio, que, atualmente, é em grande parte bancado pelo patrocínio de uma cervejaria, a Ambev? Caso sejam feitas mudanças no modelo, elas passarão a valer já em 2017?
CRIVELLA: O carnaval de rua é uma manifestação do nosso povo. Gera turismo, emprego, visibilidade à cidade. A prefeitura vai continuar apoiando os blocos com a infraestrutura necessária: banheiros, segurança, limpeza, ordenamento do trânsito. Isso é muito importante. Porque a passagem de um bloco não pode destruir um bairro ou pará-lo. Por isso tem os horários, os dias certos. É uma festa de rua, da espontaneidade, mas que precisa ser positiva para todos. Como todo modelo, acredito que possa ser melhorado. Mas isso só podemos fazer quando ganharmos a eleição. Por agora, o que garanto é que, como prefeito, serei um incentivador do carnaval.
FREIXO: É um absurdo que uma única cervejaria possa mandar no carnaval de rua. Ela não pode determinar onde haverá banheiro químico, estrutura de saúde e nem monopolizar a cor da decoração dos blocos e das ruas. Vamos sentar e estudar como a prefeitura pode ter mais participação no carnaval de rua. Para início de conversa, uma coisa é certa na nossa gestão: o carnaval de rua será entendido como uma manifestação cultural e não apenas na lógica do turismo como acontece hoje, já que toda a gestão da folia momesca está na RioTur.
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