As cervejarias Mistura Clássica e Beertoon anunciaram nesta quarta-feira, 2 de março, uma nova relação comercial: passam a ser sócias e a trabalhar sob o mesmo guarda-chuva. Não é exatamente um movimento inédito, mas, tudo indica, será cada vez mais frequente entre as artesanais. Para entender como funciona, falei hoje pela manhã com um sócio original de cada cervejaria, Marta Ribeiro, da Mistura Clássica, e Leonardo Botto, da Beertoon. Antes, lá vai um spoiler: com a economia de deslocamento de mais de 1.400 km da fábrica para os consumidores, a Beertoon promete ficar mais barata (e fresca) no Rio.
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- Viramos um grupo. A Mistura compra uma parte da Beertoon, que compra uma parte da Mistura - explica Marta Ribeiro. - Víamos que a Mistura precisava de uma Beertoon dentro e a Beertoon precisava de uma Mistura.
Quando ela diz Mistura Clássica, leia-se fábrica bem equipada, distribuição própria e muitos pontos de venda. Quando pensa em Beertoon, leia-se criatividade nas receitas, integração com o meio artesanal e uma pegada mais jovem, que impacta na comunicação. A ideia é manter as duas marcas sob o nome do grupo que está sendo criado, e que também terá suas próprias receitas. A apresentação será feita em abril, junto com a abertura para o público da fábrica em Angra dos Reis.
A Mistura Clássica é uma cervejaria fundada em 2003, em Volta Redonda (RJ), antes do boom do mercado das artesanais no país. No fim do ano passado, a fábrica com capacidade de produção de 50 mil litros ficou pequena e foi anunciada a ida para Angra. Na Marina Verolme, a capacidade de produção triplicou - as receitas são comandadas pelo sócio Severino Batista, o Bill - e a expectativa é que o local vire um ponto turístico da região.
Já a Beertoon nasceu em novembro passado como uma cervejaria cigana, ou seja, que não tem fábrica própria. À frente da Beertoon está Leonardo Botto, o cervejeiro mais influente do Rio, professor de pelo menos metade dos paneleiros cariocas e dono do Botto Bar, meca cervejeira na Praça da Bandeira que vai ganhar filial em Botafogo. Ao seu lado estão o cartunista Ique, que desenhou rótulos bem humorados (gosto especialmente da Mimosa e Carmelita), e Léo Cerqueira.
Lançada no Mondial de la Bière passado, a marca fez muito barulho de cara. Na Sud Brau, em Bento Gonçalves - onde Jeffrey e Three Monkeys também são feitas -, começou fazendo 12 mil litros, cresceu para 28 mil e encontrou um problema. Para não faltar cerveja no mercado, especialmente no Rio, era obrigado a fazer grandes “bateladas” e estocar a produção.
- Em poucos meses, a Beertoon explodiu, mas faltava braço para crescer. Provavelmente, vamos manter o mesmo volume, mas com uma grande vantagem. Agora teremos mais qualidade na operação e seremos mais competitivos no Rio. O preço tende a diminuir - diz Botto. - Além disso, agora não precisamos ter produções tão grandes. Podemos fazer regularmente e em menos quantidade, o que vai garantir um produto mais fresco.
Mas é claro que nem tudo é perfeito. A ida do Beertoon para Angra adia - para não dizer encerra - os planos da marca de ter sua fábrica na cidade do Rio. Botto tentou por sete vezes (!) abrir uma cervejaria no Rio e sempre teve os pedidos negados pela prefeitura. O caso foi importante para sensibilizar o município a flexibilizar as regras para a instalação de cervejarias.