
Nos anos 1990, o engenheiro químico argentino Manuel Mas mudou de endereço e deu uma guinada em sua vida. Deixou Buenos Aires rumo à sua terra natal, Mendoza. A reviravolta pessoal e profissional do empresário deu frutos e soou forças no processo de revolução do vinho argentino. Para escrever essa história, ele adquiriu uma vinícola em Agrelo e traçou um caminho bem diferente do que era comum à época. Com a Finca La Anita, fundada em 1992, buscou a elaboração de vinhos premium, em um momento em que o setor preconizava o volume da produção:
- Comprei uma fazenda velha, em um lugar maravilhoso, a Finca Colonia. Era usada como uma colônia de veraneio. As pessoas se banhavam no depósito de água. Era um local rodeado de fincas abandonadas, que tinham arrancado as vinhas. Nos anos 1990, a vinicultura estava em um mau momento. Havia grandes bodegas que faziam vinho massivamente para consumo local. O vinho era dividido apenas em tinto e branco. Era levado de trem para Buenos Aires, onde era fracionado e engarrafado - lembra em apresentação on-line para jornalistas brasileiros, organizada pela Total Vinhos.

Manuel Mas lembra que não havia a cultura de um enólogo nas vinícolas:
- Mudei o nome para Finca la Anita, um nome humilde, criollo. Me disseram que eu não podia fazer isso, tinha que ser um nome francês. Quis usar tecnologia, tanques, contratei pessoal. Isso coincidiu com o momento em que se estava despertando o interesse pelo vinho argentino, com o uso de pesquisas, tanques e barricas - enumera.
Ele afirma que nunca fez marketing nem publicidade. Os atrativos dos vinhos são qualidade, potência, elegância, além do potencial de guarda:
- Produzi e coloquei no mercado. Chamei jornalistas especializados argentinos, que acharam os vinhos extraordinários - relata.

Como ninguém da família quis tocar a bodega, ela hoje pertence ao grupo suíço Origin Wine Global Distribution. À frente da produção, dois enólogos. A mendocina Soledad Vargas, considerada um dos talentos da nova geração argentina, e o suíço Richard Bonvin, estabelecido no país sul-americano desde 2004 após trabalhar em vinícolas de diferentes partes do mundo.
- São 70 hectares de diferentes variedades, 70% de Malbec. Finca la Anita foi pioneira na zona que se tornou o Nappa Valley argentino. Começaram a fazer vinho com conceito de terroir em Agrelo. Estuda o lugar, cada parcela. Cada vinho é único - explica Soledad.
Já Bonvin diz que se impressionou com a qualidade do vinho produzido:
- Muitas bodegas antigas estavam com uma estrutura muito velha, sem tecnologia. Aqui encontramos um "pacote". Com relação ao vinho, buscamos autenticidade. Não queremos sobremadeira, mas a fruta - diz ele, que acrescentou que a vinícola vai buscar a produção de orgânicos a partir de 2022.
No Brasil, os vinhos da Finca la Anita são:

- Varúa 2017 (R$ 539) - Obteve 92 pontos James Suckling, 90 pontos Tim Atkin e 16,5 pontos Jancis Robinson. É um corte de Merlot (40%), Syrah de vinhas velhas (40%) e Cabernet Sauvignon (20%). Tem notas de cerejas, frutas negras maduras e noz moscada, além de chocolate e defumado. O teor alcoólico é de 14,5%. É fermentado em tanques de inox e passa 15 meses em barricas francesas de primeiro uso.
- Gran Corte (R$ 199) - Teve 92 pontos Tim Atkin. Um tinto encorpado, elaborado com Syrah (59%) os 41% restantes são 33% de Malbec da safra 2018 e 8%, da safra 2017. As vinhas de Syrah datam de 1947 e ainda são conduzidas em latada - ou parral, como chamam os argentinos. Apresenta aromas de especiarias, baunilha, café e frutas vermelhas. Combina com pernil de cordeiro, moussaka e pratos ricos em especiarias.

- Malbec 2018 (R$ 199) - Recebeu 90 pontos Tim Atkin e 16,5 pontos Jancis Robinson. Tem aromas de eucalipto, frutas vermelhas, como cereja, pimentão, tabaco e chocolate. Harmoniza com picanha grelhada com pimenta preta, carnes vermelhas com chimichurri ou molhos condimentados.
- Petit Verdot 2018 (R$ 199)- Recebeu 16,5 pontos da crítica Jancis Robinson. Foi fermentado em inox, com 12 meses de passagem por barricas francesas novas e de um ano de uso. Tem cor profunda, com reflexos violáceos, com intenso aroma frutado, com notas de chocolate, café e um toque herbáceo. Pode ser bebido agora ou guardado por ao menos mais cinco anos. Harmoniza com carnes grelhadas como paleta de cordeiro, pratos cremosos e consistentes como um risoto de abóbora e carne-seca ou queijos duros como o grana padano.
São vendidos pela Total Vinhos também a linha Luna: Malbec Reserva (R$ 129), Malbec (R$ 89), Syrah (R$ 89), Rosé (R$ 79) e o lançamento Chardonnay (R$ 89).