Solos totalmente diferentes dão origem a rótulos bem pontuados que trazem a potência e tradição da Puglia, no Sul da Itália, para o Brasil. O agrônomo Salvatore Mero apresentou quatro vinhos tintos da Felline, uma das vinícolas protagonistas do sucesso da DOC Primitivo di Manduria. São eles: Anarkos 2018; Archidamo 2018; Zinfandel 2017; e Dunico 2016, que desembarcam aqui pelas mãos da Decanter (veja mais detalhes dos vinhos abaixo).
A Felline teve papel pioneiro de resgate de castas que estavam abandonadas e de valorização de vinhas velhas. A proposta desse produtor é valorizar a diversidade da Península Salentina, produzindo Primitivos que ficam entre os melhores da região.
Outra curiosidade da vinícola está no nome dela: Felline veio de uma grande área arqueológica de Manduria, perto do mar, onde há ruínas de uma antiga cidade. Atribui-se ao lugar uma lenda ligada a São Pedro. Ele teria partido da Antioquia no ano de 45 d.C. em direção a Roma para difundir o cristianismo, mas naufragou próximo a uma das praias de Manduria. Ele foi socorrido pelo povo de Felline, que à época sofria de um surto de hanseníase. São Pedro curou os habitantes e seu governante, o rei Fellone. Todos então se converteram.
Os quatro rótulos
O Primitivo di Manduria Dunico (R$508,70) é elaborado com 100% Primitivo, na DOC Primitivo di Manduria. O vinhedo fica a alguns metros do mar, em solo arenoso e cheio de pedras. É um dos poucos vinhedos desta uva ainda ao lado das dunas de Manduria, e seu nome faz menção ao fato "único nas dunas".
- O Dunico é testemunha de uma viticultura ancestral, com baixíssimos rendimentos por planta. O Primitivo neste solo é potente e concentrado - explica o produtor Gregori Perrucci.
O vinho passa 12 meses em carvalho francês. Tem 16% de álcool. A coloração é rubi profundo; e suas notas são de frutas maduras, como cerejas, figos e tons mentolados. Os taninos são firmes e maduros.
- A Primitivo é uma uva muito conhecida hoje em todo o mundo pela capacidade que tem de produzir vinhos de qualidade. Ela tem esse nome porque amadurece primeiro, relação a outras variedades. É colhida no fim de agosto, no máximo no início de setembro. Ela naturalmente concentra grande quantidade de açúcar, o que resulta em vinhos alcoólicos ou com um pouco de açúcar residual - explica Salvatore Mero.
O Zinfandel 2017 (R$208,95, em promoção) também é feito na DOC Primitivo di Manduria, mas no que a Felline classifica de solo negro, originário da degradação de florestas antigas e erosão de rochas, rico em matéria orgânica e bastante fértil. As videiras foram plantadas a partir de clones do vinhedo Geyserville (Napa Valley). É o único rótulo não-americano degustado anualmente no Zinfandel Advocates and Producers (ZAP), em São Francisco, na Califórnia.
O Primitivo di Manduria Archidamo 2018 (R$174,64, em promoção) também é um varietal 100% Primitivo, com uvas plantadas na "Terre rosse", argilas de coloração avermelhada pela alta presença de óxido de ferro e de alumínio de Mandúria. A colheita é manual e o vinho estagia seis meses em botti de carvalho.
A cor é rubi profundo, com aromas de fruta negra e vermelha em compota, baunilha e chocolate. Harmoniza com assados de cordeiro e cabrito; massa cavatelli (gnochetti amassados de massa de sêmola sem ovo) com ragu; queijos de média cura.
Já o Anarkos 2018 (R$159,20) é um corte com as três castas mais importantes da região: 60% Negroamaro, 30% Primitivo e 10% Malvasia Nera, todas colhidas manualmente, na IGT Puglia. Elas vêm também da “Terre rosse” da região de Salento. O vinho tem 13% de teor alcoólico. Sua cor é rubi, com aromas de frutas negras maduras, especiarias, café e violeta. A sugestão de harmonização é com pizzas; churrasco brasileiro com farofa e vinagrete, espaguete à bolonhesa; nhoque com molho de linguiça e peperoncino.
- A Negroamaro é uma variedade muito tradicional na Puglia. Dentre as uvas da região, é talvez a que suporte melhor o envelhecimento por sua concentração de taninos - ensina Salvatore Mero.