Tem novidade importante para os vinhos nacionais: o Instituto Nacional da Propriedade Industrial concedeu a Indicação Geográfica Santa Catarina para vinho fino, vinho nobre, vinho licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido que deu origem à mais recente Indicação de Procedência (IP) do pais foi feito há pouco mais de um ano pela Vinhos de Altitude - Produtores e Associados.
- Há muitos anos, viemos buscando junto aos orgãos competentes este reconhecimento. É mais uma importante etapa vencida para cada vez mais colocar a altitude catarinense em local de destaque no mundo dos vinhos - afirmou Guilherme Grando, diretor comercial da vinícola Villaggio Grando.
Para o escritor Rogério Dardeau, especialista em vinhos brasileiros, a IP será importante para o consumidor brasileiro conhecer os rótulos produzidos naquela região:
- Eu considero das indicações geográficas de grande importância para a vitivinicultura brasileira. A gente não pode esquecer que o mecanismo de identificação de solo, clima e cultura já existe nos países de tradição vitivinícola há séculos. Primeiramente Portugal, depois França, Itália, Espanha. Mas o que é isso? A Indicação Geográfica é o saber de quem cultiva num determinado local. É um aprendizado que ensina o que a videira quer, o que a uva está pedindo naquele local. Mas a nossa vitivinicultura é muito jovem. E não tenho nenhuma dúvida de que a recém-concedida pelo INPI Indicação de Procedência Vinhos de Altitude de Santa Catarina vai ajudar muito o consumidor a identificar com mais clareza as caractéristicas dos vinhos daquela região, diferenciando-os dos vinhos da Serra Gaúcha, da Campanha Gaúcha e deoutras regiões tradicionais do Rio Grande do Sul. No meu ponto de vista, o que é fundamental é isso - detalha Dardeau, autor do livro "Gente, lugares e vinhos do Brasil".
Essa área geográfica da IG Santa Catarina reúne 29 municípios, que correspondem a 20% do território do estado. Os municípios são: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.
Segundo o INPI, a vitivinicultura de altitude em Santa Catarina começou nos anos 1990, quando empresários deram início aos primeiros experimentos com uvas da espécie Vitis vinifera (as que são consideradas de maior qualidade para produção de vinhos) na região serrana. Desde então, diversas vinícolas se instalaram nessas cidades. As características ambientais foram determinantes para transformar a região no polo mais importante da vitivinicultura catarinense.
Os produtores explicam que o terroir da região de altitude de Santa Catarina favorece uma adaptação adequada das videiras, permitindo a produção de bebidas de alta qualidade, percebida não apenas na produtividade, mas também nas características sensoriais gerais dos vinhos, com acidez equilibrada e boa estrutura tânica. A altitude daquele estado propicia ainda o armazenamento do vinho em barricas de madeira sem que seja prejudicada a tipicidade da bebida.
- Essa Indicação de Procedência, como todas as outras, nasceu do trabalho dos produtores. Foram eles que, identificando as características do lugar, a adaptação de castas e a cultura que se envolve no processo, enviaram um processo ao INPI para obter essa concessão. Isso vai contribuir para o nosso aprendizado. Nós consumidores vamos entender que é fundamental ter a identidade das uvas e das regiões do Brasil - afirma Dardeau.
Para o escritor, a nova IP precisa ser divulgada, assim como as outras indicações do país:
- Detalhe importantíssimo: precisa ser muito divulgada. A nossa única Denominação de Origem, a D.O. Vale dos Vinhedos, já está aí desde 2012 e a população ainda não conhece. A população consumidora de vinhos ainda não conhece o que ela representa. Mas se formos à Europa vamos falar de séculos. Aqui foi em 2012. Estamos com nove anos de uma D.O. e se formos lá no momento de ceoncessão daIP, quando Vale dos Vinhedos foi primeiro uma IP, vamos falar de 20 anos. Então é muito pouco tempo. Temos que ter muita campanha e agora defato a Associação Vinhos de Altitude Santa Catarina vai ter que fazer muita campanha para dizer quais são as uvas, as características para o consumidor se identificar com aquilo. É completamente natural um consumidor dizer "eu prefiro a uva de um lugarem relação a de outro. Eu prefiro o vinho de um lugar ao de outro. Essa é a importância no meu ponto de vista. A IP identifica as características do lugar, mas precisa ser muito divulgarapara as pessoas conhecerem.
Para Guilherme Grando, a concessão da IP ajuda o consumidor a perceber a qualidade dos vinhos da região.
- É mais uma etapa de reconhecimento de um diferencial na viticultura brasileira e, portanto, uma espécie de facilitador na hora de demonstrar a quem ainda não conhece, a qualidade dos vinhos de altitude e seu potencial em cada garrafa avalia.
Seis sugestões de peso
O diretor e professor da ABS-Rio Fernando Lima sugere seis vinhos para quem quer conhecer o terroir catarinense:
- Montepulciano da Leone di Venezia
- Oro Vecchio da Leone di Venezia
- Ana Cristina Pinot Noir da Villaggio Basseti
- Espumante Sinfonia Blanc de Blancs Extra Brut da Vinhedos do Monte Agudo
- Ribolla Gialla Villaggio Conti
- Chardonnay da Abreu & Garcia.