O francês Michel Friou é o nome por trás do Almaviva 2017, escolhido o vinho da década pelo crítico americano James Suckling. O veterano está à frente da vinícola desde 2007, quando assumiu com o grande desafio de manter o alto padrão de produção da casa, uma joint venture entre o francês Château Mouton Rothschild e a chilena Concha y Toro.
Com um corte ao estilo Bordeaux - mas com a forte presença da Carménère, uva emblemática do Chile, em quantidade bem superior à Merlot, tradicional na região francesa, o rótulo obteve 100 pontos, índice raro na classificação de Suckling, mas que já tinha sido alçançado também com a safra de 2015. O vinho da década foi descrito pelo crítico “encorpado, firme e mastigável”, com aromas selvagens e exóticos de folhas de amora, iodo, conchas de mexilhão e terra. “É estruturado e poderoso. Denso e muito, muito profundo. Nesta quarta-feira, Friou (@almavivawinery) participará de uma live com o crítico Pedro Mello e Souza (@pedromelloesouza), às 19h:
- Vamos conversar sobre a safra histórica de 2017. Vou tentar descobrir o que há por trás deste que é considerado o melhor vinho da América do sul - conta Mello e Souza.
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O vinhedo da Almaviva está uma localização estratégica, e propriedade é chamada de Bordeaux da América do Sul. Fica a 650 metros de altitude, tem clima mediterrâneo semi-árido e solo argiloso com ótima drenagem. Os dias são longos e ensolarados, mas recebem brisas da Cordilheira dos Andes.
- É uma grande responsabilidade. Porque o que se espera depois desse nível de reconhecimento do vinho da década? O vinho do século, que é muito mais difícil, comentou Friou na live feita na semana passada com a sommelière argentina Cecilia Aldaz.
Ao elaborar o melhor vinho da década, Friou optou por uma combinação elegante e robusta: 65% de Cabernet Sauvignon, que tem seus taninos suavizados com 23% de Carménère, 5% de Cabernet Franc, 5% de Petit Verdot e apenas 2% de Merlot. O envelhecimento em carvalho francês novo dura 19 meses.
Friou explicou que a estrutura tânica dos vinhos Almaviva vem do Cabernet Sauvignon:
- O Cabernet Sauvignon é um dos pilares. Damos a sorte de ter taninos mais suaves e redondos da parte alta do Vale do Maipo. Esses ângulos do Cabernet são suavizados pela Carménère, que tem taninos mais sedosos e uma acidez mais baixa. O Cabernet Franc dá mais complexidade. O Petit Verdot foi usado pela primeira vez em 2010. Ele contribui com cor e um perfil aromático distinto, de amoras, tabaco. E dá volume no meio da boca, junto com a Carménère. É um prazer na boca.
Separação manual das uvas
As uvas são colhidas manualmente e separadas da mesma forma. São usados tanques de vinificação por gravidade, que também permitem o manuseio suave das uvas. O vinhedo é irrigado por gotejamento subterrâneo, que controla melhor a hidratação das videiras.
O Almaviva reúne um pouco do Chile e da França. Do país sul-americano, vêm o terroir excepcional (vinhedo, clima, as pessoas). Da Europa, a experiência, o know-how e a tecnologia.
- No princípio, havia a promessa de um grande vinho, de excelência. Quando você faz um bom vinho, não se pode dormir, tem que seguir aprendendo. O vinho é resultado de uma grande visão e depois de todas as mãos distintas que fizeram o trabalho no vinhedo e na vinícola. É um projeto de centenas de pessoas, com seu coração - afirmou Friou.
Com relação aos vinhos brasileiros, Friou ressaltou que o clima brasileiro permite a produção de espumantes de qualidade:
- O Brasil tem um clima que permite produzir com êxito um grande número de vinhos. Há muita chuva, que cortam o ciclo. Você tem que escolher uvas que amadurecem cedo, como as usadas para vinhos base de espumantes. São mais fáceis de fazer que um Cabernet Sauvignon ou um Carménère, que obviamente não podem amadurecer bem. Os espumantes são os grandes vencedores dessa situação climática, assim como as cepas de maturação tardia são complicadas - explicou.
25 anos no Chile
O enólogo enfatizou a qualidade dos vinhos no Chile:
- Há muita diversidade. De Norte a Sul, do mar à Cordilheira dos Andes. Há vinhos muito bons - frisou, na live com Cecilia.
Friou está há 25 anos no Chile e é casado com uma chilena. A Cecilia Aldaz, disse que vê o espírito de família como um pilar da cultura daquele país.
- Estou contente de ter minha família no Chile, um país que mudou muito nesses 25 anos. A França também mudou. Quando me convém, sou chileno. Quando me convém, francês - brincou.
Indagado sobre qual vinho costuma tomar quando quer descansar, a resposta surpreende:
- Com os anos, passei a tomar Pinot Noir e os brancos. O melhor é provar um vinho distinto todos os dias - finalizou.
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