O Guia Descorchados 2020, considerado o maior guia de vinhos sul-americanos do mundo, será lançado no Rio e em São Paulo com degustações de mais de 150 rótulos de 25 vinícolas que foram pontuados na publicação.
A obra foi escrita pelo especialista chileno Patricio Tapia, que há 21 anos se dedica a mapear as vinícolas da região e a buscar os melhores vinhos produzidos em Argentina, Brasil, Chile e Uruguai. O Saideira conversou com Tapia, que destacou a produção de vinhos mais frescos na região nos últimos anos. Na avaliação dele, para o consumo da bebida aumentar no Brasil, falta um programa que envolva produtores e vendedores, além de que o vinho seja percebido como uma bebida descomplicada. Confira a entrevista abaixo:
Você começou a fazer o Descorchados em 1999. Qual foi a principal mudança que percebeu nos vinhos da região neste período?
Há muitas mudanças, mas, entre as principais, está o surgimento de pequenos produtores que deram muito dinamismo à cena, bem como o foco no lugar em que os vinhos são produzidos; e, o que é muito importante, a ideia de fazer vinhos mais frescos e sem tanta madeira.
Qual vinho conta a melhor história no Descorchados deste ano?
Sempre há muitas histórias para contar no guia. Algumas delas são o surgimento de vinhos no Sul do continente, o trabalho dos pequenos produtores de vinhos naturais no Brasil e o Pinot Noir chileno, uma das grandes surpresas deste ano.
Que tendências de produção e consumo você consegue alinhavar sobre os vinhos da região?
Acho que o pêndulo definitivamente mudou para vinhos mais frescos. Se essa era apenas uma tendência entre os produtores de vinho antes, agora essa tendência passou para os consumidores. Acredito que cepas ancestrais como País ou Muscat estão vivendo seus melhores momentos e são pouco a pouco reconhecidas, principalmente por uma nova geração de consumidores sem preconceitos.
Como você avalia o ganho de qualidade dos vinhos brasileiros ao longo dos últimos anos?
Quando se trata de vinhos espumantes, o Brasil é uma referência na América do Sul. Com relação aos tintos e brancos, ainda há um longo caminho a percorrer.
O que falta para o Brasil aumentar o consumo de vinho por habitante?
Imagino que falta um ótimo programa no qual muitos atores da cadeia de produção e comercialização de vinho participem, mas também consiga que o vinho seja percebido como uma bebida descomplicada, como mais um alimento na mesa. Isso é difícil, especialmente quando você tem que lutar com a cerveja e a cachaça.
Qual é o melhor vinho brasileiro?
Você saberá que quando lançarmos o nosso guia Descorchados.
Você concorda com os que dizem que a uva tinta que mais se adaptou ao Brasil é a Merlot?
A verdade é que não. Existem muitas possibilidades. Eu tenho visto muito bom Cabernet Franc no Brasil, mas também bons resultados com Syrah e Tempranillo. Primeiro, você tem que capturar a fruta e depois ver o que é melhor e onde. Eu, pelo menos, não vi grandes Merlot no Brasil.
Por que o Chile é um sucesso nas exportações de vinho?
Porque oferece vinhos de qualidade a preços razoáveis. Esse é o segredo. Muito vinho de bom preço e boa qualidade.
Que lugar na Argentina merece destaque por sua singularidade?
Muitos lugares. O Norte e sua altura dão deliciosos tintos e brancos, mas também algumas áreas do vale de Uco, especialmente o mosteiro na área de Gualtallary. Lá, experimentei alguns dos melhores tintos da América do Sul.
Você tem um vinho favorito? Ou é uma lista numerosa com preferidos? Pode citar alguns?
A verdade é que não tenho vinhos favoritos. Meus gostos são muito ecléticos. Gosto dos feitos com País do Sul do Chile, mas também do Malbec de solos de cal em Uco e da Baga da Bairrada; do Barolo e do Chambolle e também de algumas Mencías da Galícia... A lista é longa.
Para você, a arquitetura, paisagem e sustentabilidade das vinícolas sul-americanas merecem a atenção mundial tanto quanto os vinhos que produzem?
Não. Acho que a primeira coisa é o vinho que é produzido. O exterior vem depois. Tomando o caminho oposto, acho que está errado.
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Mais sobre o Descorchados
O guia deste ano bateu recordes de provas: foram 4.664 vinhos, de 540 vinícolas. São descritos e pontuados mais de 3.000 rótulos. Ele foi escrito com a colaboração do brasileiro Eduardo Milan, editor de vinhos da Revista Adega e Descorchados.
- O lançamento do Guia Descorchados é uma oportunidade única para os admiradores do bom vinho conhecerem os principais destaques e conversarem com produtores, enólogos e importadores - afirma Christian Burgos, CEO e publisher da Inner Group, sócia do Guia Descorchados no Brasil.
O lançamento da publicação terá uma série de palestras do próprio Patricio Tapia. Inicialmente previsto para 2 de abril, o lançamento foi adiado por causa da pandemia mundial de coronavírus. A nova data não foi determinada. O lançamento em São Paulo será apenas em agosto, pelo mesmo motivo.
Descorchados 2019: Letras Garrafais: o guia do nosso vinho
Serviço
Lançamento Guia Descorchados 2020
São Paulo
Endereço: Villagio JK, Rua Funchal 500, Vila Olímpia, São Paulo. Tel.: (11) 3044-3022
Ingressos: site Evenbrite https://descorchados-2020-sp.eventbrite.com.br
Rio de Janeiro
Endereço: Village Mall, Avenida das Américas 3.900, Barra da Tijuca
Ingressos: site Evenbrite – https://descorchados-2020-rj.eventbrite.com.br
Classificação: 18 anos